Em 20 a 22 de abril de 2017 realizei palestras no 37º Congreso Argentino de Viveros e aproveitei para atualizar me sobre os andamentos do mercado de flores. Nesse ano completo cerca de 10 anos de visitas à Argetina e é interessante uma avaliação histórica sobre o que mudou e o que não mudou nesse intervalo.

Vamos ao que mudou:

  • Há mais variedade flores em vaso, ainda que não seja ainda o suficiente, é um grande avanço desde a primeira visita;
  • A produção de flores de corte, sobretudo das rosas, cresceu bastante. Ainda entram produtos da Bolivia e Colombiha, porem, a oferta interna é mais volumosa. A queda de consumo contudo gerou sobras e crise nos produtores de rosas;
  • A participação dos viveros se consolidou e são fundamentais na distribuição de flores na Argentina;
  • A venda em supermercados cresceu e agora reduziu-se e ao contrario do que acontece no Brasil, não tem papel significativo no mercado.
  • Há mais colorido nos vasos;
  • Crescimento da variedade de vasos
  • Os cactos ocuparam o espaço que no Brasil é atendido pelas flores envasadas. Eles tem as cores, vasos bonitos, boas embalagens e boa distribuição. Tem alta venda por impulso e atingem a população que não é técnica no produto. Sua alta durabilidade ajuda.
  • Percebe-se um fortalecimento do segmento de plugs
  • O preço de investimento em estufas parece ter caído (agora em US$ 26,00/m2), mas subiu o custo de energia e com isso reduziu a área de produção de flores envasadas.
  • A situação macroeconômica piorou, e com o crescimento da inflação e da desvalorização, o ambiente de negócios fica prejudicado.

Agora vamos ao que não mudou:

  • As principais datas de comercialização ainda acontecem no segundo semestre (Maes e Primavera) e ainda há necessidade de promover vendas no primeiro semestre.
  • Impressiona a entrega e o comprometimento das lideranças dos produtores no esforço de lutar pela melhoria do mercado, investindo capital próprio e insistindo, mesmo com a dificuldade dos resultados
  • A depencia de recursos públicos para patrocinar eventos e iniciativas promocionais para o mercado de flores ainda é importante e com as constantes crises politicas, essa fonte de financiamento apresenta-se muito instável;
  • A venda continua sendo programada. Sem o mercado de compra por impulso um mercado não consegue desenvolver-se.
  • O pos colheita, o transporte dos produtos e a cadeia do frio não foram implantadas no sistema argentino e isso prejudica demais o produto final, sobretudo as flores de corte, ocasionando grande volume de perdas dentro da cadeia e preço alto ao consumidor, o que acaba por inibir o consumo;
  • Os quiosques de Buenos Aires continuam com a mesma apresentação e já não causam mais o mesmo efeito;
  • As lojas no modelo Garden Center não vingaram;
  • A assinatura de flores para empresas não aconteceu;
  • A vendo por ecommerce é incipiente;
  • A presença digital das floriculturas é fraca, como não Brasil, e essa ferramenta é simplesmente ignorada;
  • A amplitude de consumidores não se ampliou, ao contrario do que aconteceu no Brasil. Na Argetina temos as datas de pico e os consumidores técnicos. O grupo de amantes de flores mas que tem baixo conhecimeno das flores não foi estimulado a incorporar-se ao mercado, através da criação de mais informações, conveniência e produtos mais adequados;
  • Os custos de produtos de adubação, pragas e manutenção são altos para o consumidor final;
  • A produção regional, no interior do pais (Santa Fe, Cordoba, Mendonça, etc) cresceram com produção regional, o que enfraqueceu os produtores do entorno de Buenos Aires.

E agora vamos analisar as grandes oportunidades:

  1. As flores são produtos de demanda elástica. Isso significa que reduções de preço provocam crescimentos de volume mais que proporcional. Analisando o caso especifico do Phalaenopsis, ainda muito caro na Argentina, há uma grande oportunidade de aumento de faturamento com a redução do preço final;
  2. As flores de corte precisam melhorar seu pos colheita e o transporte, para melhorar a qualidade ao consumidor final e o preço de venda (pela menor perda). Novamente a lei da elasticidade de demanda ira favorecer o crescimento do mercado;
  3. O projeto cidade linda da cidade de São Paulo desenvolveu novos projetos de quiosques de flores para revitalizar o segmento e poderia ser uma inspiração para Buenos Aires;
  4. Ainda na cidade de São Paulo, a implantação de grandes jardins verticais em paredões públicos, antes pichados, ira certamente influenciar o consumo privado. Esse nicho, jaridins verticais, é muito promissor na Argentina;
  5. A empresa Monsanto desenvolve em São Paulo o projeto Plantaria para levar assistência técnica e informações ao consumidor final de plantas e flores. Esse mesmo modelo poderia ser adotado pelo grupo de marketing de Buenos Aires;
  6. As floriculturas e Viveros deveriam ser capacitados em presença digital e no uso do funil de vendas para melhorar o relacionamento, promover vendas e interagir com os consumidores, dessa forma faríamos a inclusão dos consumidores amantes de flores, mas que não entendem do produto, para consumo frequente e de uso próprio;
  7. Para apoiar a logística, no ecommerce, deve ser analisado o caso da start up “eu entrego” que usa autônomos para fazer a logística de produtos e reduz custos
  8. No Brasil, um novo canal de comercialização que esta crescendo são as feiras de produtores. Esse modelo não é representativo na Argentina

Enquanto no Brasil o foco para recuperação do mercado de flores deve ser a estratégia de retenção de clientes, na Argentina a estratégia de marketing deve ser de aquisição de clientes, criando conveniência para que a população experimente o produto. Essa conveniência tem a ver com durabilidade, embalagens, informações, apelo emocional e acesso mais facilitado aos produtos.

Com isso ampliaremos a base de compradores e alcançaremos volumes que viabilizarão os investimentos dos produtores. Sim é possível e o segmento de cactos mostra isso.

 

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x