Se há alguns anos a moda em São Paulo era servir comidinhas em espaços cheios de plantas, agora brotam lugares escondidos dentro de floriculturas que criam um ambiente colorido e florido para quem busca drinques na noite paulistana —no caso, o Flora Bar, que fica nos Jardins, e a espera do Infini, local que foi apelidado de Bar das Flores, no largo do Arouche.

Separadas por cerca de quatro quilômetros, as duas casas dividem ainda outras semelhanças: apostam na alta coquetelaria, abriram as portas em outubro e têm um temperinho francês. Mas é tudo coincidência.

Montado por Guilherme Chueire, o Flora ocupa o antigo ponto de uma das casas tocadas pelo empresário, o Bottega Bernacca Due, na rua Padre João Manuel. Quando o restaurante italiano ganhou um espaço no shopping Iguatemi, Chueire viu a oportunidade de montar ali um speakeasy, nome dado aos bares clandestinos da época da Lei Seca americana.

Fachada do Flora, bar escondido atrás de floricultura nos Jardins – Junior Peres/Divulgação

A ideia da floricultura foi circunstancial. “O speakeasy tem que ter essa coisa contrastante com o que existe dentro, e não queria perder a luz natural para quando a casa abrir de dia”, explica Chueire. Assim, ele convidou uma amiga paisagista para montar sua loja ali, a Verde Uva.

O que os vasos e arranjos escondem é um corredor apertadinho de clima meio cavernoso, que é criado pela luz baixa, poltronas de couro, espelhos, letterings com jeitão de vintage e trilha sonora animada. No meio fica o coração de todo bar, o seu balcão.

“Queria encontrar alguém bem renomado para o bar, uma pessoa que pudesse dar credibilidade para a casa”, explica Chueire. Assim, ele encontrou Adriana Pino, profissional premiada que se tornou chefe de

A carta destaca coquetéis clássicos, apresentados em ordem cronológica. Começa em 1838, com o sazerac (R$ 64), e termina em 2014, com o macunaíma (R$ 42). Criados por Pino, por enquanto, são apenas três. “Queremos focar bem os clássicos nesse início”, explica o empresário.

Para completar o time, convidou o chef Thiago Cerqueira, que trabalhou no Sympa e no Loup, para comandar a cozinha. O menu combina França e Brasil em receitas sofisticadas: há pastéis recheados com ragu de pato (R$ 34 com duas unidades), crudo de vieiras (R$ 64) e misto-quente com jamón e manteiga de trufas (R$ 45). “O pessoal vai esperando só tomar um drinque e acaba surpreendido por um cardápio bem executado.”

É difícil não relacionar o Flora e o Bar das Flores ao Florería Atlántico —um bar escondido dentro de uma floricultura em Buenos Aires. O local está em terceiro lugar no ranking global do 50 Best Bars e é o melhor da América Latina. Chueire diz que a casa foi uma inspiração na hora de bolar seu speakeasy. Já Leo Henry, do Bar das Flores, diz que não foi o caso.

Instalado dentro do Mercado das Flores, tradicional espaço para compra de plantas e aberto desde 1927 no largo do Arouche, a casa é o local de espera para quem deseja entrar no Infini, o ultramoderno bar de drinques recém-inaugurado e escondido dentro do La Casserole, clássico restaurante francês que funciona há 68 anos do outro lado da rua. Não parece, mas os três pertencem, sim, à mesma família.

“O Mercado das Flores foi um dos motivos que levou os meus avós a escolher o lugar para abrir o La Casserole”, conta Henry. “Essa sinergia com lojas de flores é uma coisa bem francesa.” Segundo ele, o proprietário da floricultura brinca que os dois negócios namoraram todos esses anos, até que agora resolveram se casar.

Apesar de não ter qualquer sinalização —pudera, a casa nem sequer tem nome oficial—, o local ganhou o apelido de Bar das Flores e fica aberto para quem quiser sentar para bebericar. “As pessoas olham, veem as mesinhas, mas nem sempre entendem que existe um bar ali. Daí, quando entram e veem um bartender uniformizado fazendo drinques, ficam muito felizes.”

E o espaço tem vida própria. Assim como no Infini, a carta é assinada por Victor Zucaroni, mas traz bebidas diferentes. São apenas cinco coquetéis, todos a R$ 30 e com receitas com algo que remete à botânica, para fazer jus ao cenário. É o caso do Mamie Taylor, com uísque, xarope de mel, limão-siciliano e espuma de gengibre. Para comer, há o club sandwich de hadoque (uma espécie de bacalhau) ou cogumelos, a R$ 30 cada um.

Além das cores, Henry diz que as pessoas gostam muito dos aromas. “Estamos o tempo todo de máscara. Mas quando o pessoal tira para tomar os drinques, sempre comenta que o lugar é muito cheiroso. Tem essa coisa sensorial também.”

Conheça bares escondidos dentro de floriculturas para beber drinques cercado de plantas – 13/01/2022 – Bares e noite – Guia Folha (uol.com.br)

 

 

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