O varejo representa 27% do PIB e tem a grande responsabilidade de dar fluidez a economia. Se aquilo que é produzido tem venda, alimenta-se um ciclo de movimentação financeira que liga consumidor a indústria e tem reflexos diretos em emprego, renda, arrecadação de impostos e investimentos.
Parte desse ciclo é baseado na renda disponível e parte é baseado no crédito. Em anos passados o Brasil conseguiu ter bons resultados, mesmo com um cenário mundial negativo, puxado principalmente pelo mercado interno (que por sua vez foi sustentado mais pelo aumento de crédito do que do aumento de renda)
O que acontece agora é um perigoso ciclo negativo de crédito que pode prejudicar o desenrolar da principal máquina de movimentação da economia:
- A situação de inadimplência já era alta antes da pandemia, com cerca de 60milhoes de pessoas registradas nas empresas de restrição de crédito;
- Durante o mês de março, primeiro mês da quarentena e antes do estouro das demissões, a inadimplência cresceu 25% (conforme reportagem da Revista Exame)
- Com a pandemia 67% das famílias se declaram inadimplentes e com dificuldade de pagar suas dívidas – isso afeta principalmente a Classe C, grande força do consumo no Brasil. Desde então esse % tem crescido 0,5% ao mês!
- A Associação nacional dos Lojistas de Shopping prevê o fechamento de 15mil lojas e o CNDL – Conselho Nacional de Diretores Lojistas estima perdas acima de R$100 bilhões no varejo.
- Os principais bancos do país retiveram cerca de R$30 bilhões de seu resultado para provisão de perdas (cerca de 15% do faturamento)
- Devido às restrições de crédito gerados pela queda dos pagamentos, muitas lojas não conseguem ter acesso as linhas de emergência criadas para apoiar as MPEs
- Deve haver aumento da “inadimplência compartilhada”, pessoas da família ou amigos que emprestam o nome para ajudar conhecidos e acabam ficando também inadimplentes pela falta de renda do solicitante
Ok, eu sei que você já entendeu…
O que podemos pensar em caminhos:
- Favorecimento do comercio de bairro e volta da venda de “caderneta”
- Volta das vendas em cheques – desde que com novos mecanismos de segurança. Empoderamento do CADASTRO POSITIVO.
- Aumento do uso dos cartões de débito
- Para vendas a distância e pela web, aumento do uso de links de pagamento (algumas operadoras de cartão de crédito já oferecem esse serviço)
- Volta da prática de preços diferentes em pagamento por crédito e a vista, por pressão dos consumidores que não tenham cartão de crédito
- Volta de opções de compra coletiva, compra compartilhada e crescimento dos Atacarejos
- Crescimento de permutas entre empresas (produtos e serviços)
- Para grupos mais bem organizados, a criação de bandeiras de cartão de crédito com a marca própria (como pelas Associações Comerciais) para oferecer crédito e assumir riscos, pode gerar um instrumento de suporte a vendas
Concluindo
O consumo depende de renda e de crédito. E esses pilares estão descritos acima.
Mas ele depende também de outro fator – a confiança do consumidor.
Nesse período de quarentena ela teve quedas constantes o que agravou os impactos e as previsões. A confiança, assim como a economia, é algo que não pode ser tocado, visto ou pesado. Ela é um exercício de fé.
A forma com que a gestão municipal, as lideranças empresariais e os lojistas se organizam para lidar com os desafios de crédito e renda afeta diretamente o nível de confiança e logo a perspectiva de consumo.
Após a quarentena teremos um movimento natural de “explosão da confiança”, cabe a nós saber potencializar esse movimento e se focar principalmente na construção de cenários promissores para o médio prazo, concentrando-se nos caminhos e fazer com que isso desperte nas pessoas a vontade de vencer.
Com o aumento da confiança, parcerias se consolidarão, pequenos investimentos começarão a ser feitos e principalmente a inovação será potencializada. Se retomamos assim o ciclo de impulso da economia, as coisas naturalmente acabam se auto impactando.
É URGENTE ROMPERMOS O CICLO VICIOSO E PROMOVER UM CICLO VIRTUOSO!
A economia se move pela crença das pessoas e não pela realidade onde elas se encontram…
Augusto Aki – Consultor de Modelos de Negócio – Sebrae
19 991279660 akiaugusto@gmail.com