Ter um propósito e questionar as próprias certezas tornam o empreendedor mais resistente a adversidades
O norte-americano Thomas Edison deu uma grande contribuição para o mundo ao inventar a lâmpada elétrica. Para os empreendedores, ele deu uma grande inspiração ao resumir os seus insucessos. Após tentar milhares de vezes e finalmente encontrar uma solução que funcionasse, Edison afirmou: “Eu não fracassei. Simplesmente descobri 10 mil maneiras que não funcionam”.
O espírito de Edison pode ser descrito com uma palavra que está em alta nos últimos anos: resiliência. Você já deve ter ouvido ou lido em algum lugar que resiliência é uma característica fundamental para um empreendedor. Mas afinal, o que é essa tal resiliência? E por que ela faz tanta diferença?
O conceito surgiu na física. Um objeto resiliente é aquele que consegue voltar à forma original após grande pressão — como uma mola. Depois, a psicologia começou a adotar o conceito, considerando que, nas pessoas, a resiliência seria a capacidade de superar os efeitos de uma adversidade, a capacidade de se recompor e seguir adiante depois de momentos difíceis. Porém, ao contrário da mola, para o ser humano é impossível sair de uma situação complexa da mesma maneira que entrou. Cada superação resulta em um novo aprendizado.
Considerando que em uma empresa o caminho para o sucesso é feito de muitos altos e baixos e que é necessário fazer ajustes constantes, exatamente o que Thomas Edison viveu, a resiliência é fundamental para que o empreendedor continue apostando no seu sonho. Eloi D’Avila, fundador da Flytour, sabe muito bem o que isso significa. Empreendedor há 42 anos em um país em que a maior parte das empresas fecha após quatro, ele já testemunhou diferentes crises econômicas e mudanças tecnológicas. Não só isso: teve uma infância difícil, fugiu de casa aos 8 anos, morou na rua, passou fome e foi recolhido três vezes pelo Juizado de Menores.
“Ser resiliente é uma sobrevivência pessoal. Se o ser humano consegue errar e depois acertar é porque é resiliente. Conseguimos errar, olhar por um novo ângulo e refazer de outro jeito”, afirma. A seguir, Eloi reflete sobre sua trajetória empreendedora e o que pode servir de lição para outras pessoas.
1. A superação é diária
Para Eloi, os empreendedores precisam todo dia repensar, recriar e reprogramar suas empresas. O resiliente é aquele que consegue mudar sua gestão para ganhar mais produtividade e consistência. É aquele que tem atitude de mudança –e nem sempre a mudança precisa ser motivada por um evento traumático.
“Tudo o que antes usávamos na internet não usamos mais. Tudo o que usávamos contabilmente não usamos mais. O próprio banco, como será nos próximos anos? Haverá agências? E as lojas físicas? Como fazer o off-line conviver com o online?”, diz Eloi, exemplificando a necessidade de encarar as transformações.
2. Questione suas certezas
“O resiliente precisa ter consciência de que dessa vida não vamos levar nada”, afirma. Pensando assim, o choque com as próprias crenças não parece tão assustador. Você pode arriscar, refazer e repensar. “O meu mapa mundi fica sempre de ponta cabeça, com a América do Sul para cima. Acham que eu sou maluco, mas para mim é assim. Eu também sempre penso que nada do que me trouxe até aqui me levará ao próximo passo”, conta Eloi.
3. Tenha um propósito e não desista
Para o fundador da Flytour, resiliente é aquele que consegue chegar ao ponto final. No caso de empreendedores, são aqueles que não vendem suas empresas antes que ela dê resultados e que não desistem antes de alcançar seus sonhos. Uma parte importante dessa fórmula são objetivos claros. “O resiliente tem, acima de tudo, propósitos.”
Segundo Eloi, todos nós temos frustrações, mas precisamos encontrar maneiras de fazer nosso produto ou nossa visão sobreviver por vias alternativas se a primeira tentativa não deu certo. Se uma avenida importante estiver parada, por exemplo, o motorista não vai deixar de chegar ao seu destino. Vai desviar do tráfego usando uma rota alternativa. “O mundo sempre foi comandado por loucos de boas e más intenções. Vamos ser loucos de boas intenções.”
4. Vivemos dos outros
O resiliente também sabe se relacionar com as pessoas. “Já tive ótimos franqueados, que tinham um histórico em grandes empresas, e que começaram a ter problemas assim que contrataram o primeiro funcionário. Eu tenho funcionários que estão na empresa há mais de 30 anos. Alguns inclusive já se aposentaram. Isso é uma satisfação para mim”, afirma Eloi.
Para ele, nenhum resiliente sobrevive sem as pessoas e sem humildade. Na sua história, nos momentos mais difíceis, ele sempre tirou muita força de sua família e sua fé. Certa vez, quando perdeu um emprego, ele voltou a morar na casa do sogro. “A gente vive dos outros. Isso é bacana.”
5. Mirar em bons exemplos
Um exemplo de resiliência para Eloi foi a Copa do Mundo no Brasil. Havia quem temesse um fracasso durante o evento, mas passou longe disso, e todos os turistas foram muito bem tratados. Tanto a Copa quanto as Olimpíadas foram um exemplo para os brasileiros de que é possível dobrar o número de turistas no país nos próximos 10 anos.
Outro exemplo que ele gosta de usar são os países da antiga Indochina, como Laos, Camboja e Vietnã. Eles estavam destruídos, mas conseguiram se reerguer. “São o melhor lugar para se fazer turismo hoje. Além disso, ganharam força na agricultura. Toda cafeteria americana, por exemplo, usa café produzido no Vietnã”, diz o empreendedor.
6. Ter pensamento positivo
Pensamento positivo é outro ingrediente fundamental para a resiliência, “Se as startups não tiverem pensamento positivo no momento que o país está vivendo, voltaremos a ter só 10 grandes empresários no Brasil, e isso não é bom. “Temos que seguir acreditando. A lógica é: quantos erros eu terei que cometer para acertar um? Para acertar uma vez, é preciso fazer muita besteira antes.”
Leia mais em Endeavor @ https://endeavor.org.br/resiliencia-6-aprendizados-de-quem-empreende-ha-mais-de-40-anos/